Partindo da dramaturgia "O Urso", do autor já citado no título, pensei no local que melhor remeteria ao que pensei sobre a peça, o estacionamento, e com algumas características a mais sobre personagens, sobre cenário, sonoplastia, e outras expectativas do que seria a obra encenada, que foram comentadas em aula. Seguindo para a prática da encenação, me vieram fragilidades e dificuldades em que não tinha me atentado enquanto tudo estava no papel. Indo para a prática eu priorizei em manter a maior parte do que tinha colocado no papel, mudando apenas as tais fragilidades de ideias que já comentei, comecei a perceber como no meu projeto tinha partido para o estereótipo dos personagens, porém é o que menos gosto enquanto arte, essas fragilidades foram repensadas, e mudadas sem mudar completamente a proposta.
Dei muita importância para estética da peça, pensando cuidadosamente em cada figurino e qual aflição, ou estranhamento, causaria, e o espaço escolhido fez o papel decisivo para a estética, pois toda a amplitude e a falta de luz causava, para mim enquanto encenador, o clima necessário.
Eu acabei refazendo o texto, pois ele é muito repetitivo, sintetizei-o, mudando em alguns momentos o texto dito para ações, você acabou comentando que nas três cenas, do dia em que apresentei, o texto seria dispensável, porém, discordo pois na minha cena por mais que tudo aquilo poderia ser apenas ações, o texto ali era indispensável, pelo fato da linearidade da história contada, ainda estar sendo mantida, o que tornava o uso do texto totalmente necessário, se eu não quisesse partir para a mímica, ou outro tipo de arte que representasse sem a fala.
E agora consigo entender, sobre o fato de parecer que eu me ache mais inteligente do que o público, quando digo para ele não ir ver a cena, e pensei muito sobre isso, não tinha conseguido te entender na aula, porém pensando depois cheguei na mesma conclusão de prepotência, ou algo parecido.
Dessa vez a insegurança foi bem menor, acho que pelo fato de eu ter chego certo do que queria montar, e de estar gostando do que estava vendo, e quando a insegurança diminui curtimos mais o que estamos fazendo.
É isso.
sábado, 23 de abril de 2011
segunda-feira, 11 de abril de 2011
E tudo se foi...
E a mulher que sempre, às 23:11, espera o homem para poder abrir o portão, se deparou com o vazio de não ter nem um portão e muito menos quem entrasse por ele.
A chave, cor de cobre, sempre acordada até seu último momento de lucidez, antes do sono tomá-la como sua, em sua luta, ela pensa na vida, pensa como foi o seu dia, o que fez e o que não fez, e acaba sempre pairando no ar o sentimento de morte. Essa morte que aparece de mansinho, sem percebermos, essa morte que nos cutuca dia-a-dia tornando-nos cada vez menos acordados. E dum sorriso frenético vindo do lado de fora a chave se encontra com o que seria vivo, com o que à torna viva, O Homem, aquele homem tão homem quanto os outros, com barba por fazer, seu uniforme azul claro na camisa e azul escuro na calça, com o seu cabelo penteado cuidadosamente na manhã do mesmo dia, porém, naquela hora já não se via tanto cuidado, com seus sapatos, aqueles mesmos sapatos que pisaram tantas vezes aquela calçada, aquele verniz, aquele asfalto, sempre com seu perfume barato, cheirando a flores, um cheiro ardido e doce, com seus lábios rachados, com suas mão rachadas e seus pés também rachados.
Voltando, ele aparecia sempre com o mesmo sorriso, a mulher, sempre a sua espera segura a chave, a mesma que luta pelo sono, em suas mãos gordas, aquelas que ela acabara de besuntar com cremes, e a chave iria para seu momento mais vivo de toda sua existência, a hora da volta, e a mulher com seu mesmo sorriso amarelo, enfia a chave na fechadura, e a gira, e gira mais uma vez contado duas voltas completas, o homem entra, e novamente se gira a chave. Depois de seu contentamento diário, a chave é repousada, bem do lado do televisor, onde poderia dormir toda sua noite, sentindo-se cada vez mais viva.
A mesma rotina por 625 dias, até que O homem, tornou-se não homem, O homem, virou não se sabe o que, O homem, evaporou, O homem, caiu, O homem, rolou, O homem, se lambuzou, O homem, sumiu, O homem, se fodeu, O homem, tomou no cu, O homem, beijou a mãe, O homem, beijou o pai, O homem, deixou de ser, O homem, passou a ser, O homem, foi, O homem, ia, O homem, dia, O homem, sol, O homem, nuvem, O homem, terra, O homem, tem, O homem, não, O homem, sim, O homem, deu, O homem, é, O homem, passou passará, O homem, amou, O homem, chorou, O homem, homem, O homem, mulher, O homem, criança, O homem, odiou, O homem, defecou, O homem, urinou, O homem, transou, O homem, relacionou, O homem, beijou, O homem, jantou, O homem almoçou, O homem, ERROU. O HOMEM. O HOMEM. O HOMEM. O HOMEM. A CHAVE. A MULHER. O HOMEM. O HOMEM. A CHAVE.
A chave, cor de cobre, sempre acordada até seu último momento de lucidez, antes do sono tomá-la como sua, em sua luta, ela pensa na vida, pensa como foi o seu dia, o que fez e o que não fez, e acaba sempre pairando no ar o sentimento de morte. Essa morte que aparece de mansinho, sem percebermos, essa morte que nos cutuca dia-a-dia tornando-nos cada vez menos acordados. E dum sorriso frenético vindo do lado de fora a chave se encontra com o que seria vivo, com o que à torna viva, O Homem, aquele homem tão homem quanto os outros, com barba por fazer, seu uniforme azul claro na camisa e azul escuro na calça, com o seu cabelo penteado cuidadosamente na manhã do mesmo dia, porém, naquela hora já não se via tanto cuidado, com seus sapatos, aqueles mesmos sapatos que pisaram tantas vezes aquela calçada, aquele verniz, aquele asfalto, sempre com seu perfume barato, cheirando a flores, um cheiro ardido e doce, com seus lábios rachados, com suas mão rachadas e seus pés também rachados.
Voltando, ele aparecia sempre com o mesmo sorriso, a mulher, sempre a sua espera segura a chave, a mesma que luta pelo sono, em suas mãos gordas, aquelas que ela acabara de besuntar com cremes, e a chave iria para seu momento mais vivo de toda sua existência, a hora da volta, e a mulher com seu mesmo sorriso amarelo, enfia a chave na fechadura, e a gira, e gira mais uma vez contado duas voltas completas, o homem entra, e novamente se gira a chave. Depois de seu contentamento diário, a chave é repousada, bem do lado do televisor, onde poderia dormir toda sua noite, sentindo-se cada vez mais viva.
A mesma rotina por 625 dias, até que O homem, tornou-se não homem, O homem, virou não se sabe o que, O homem, evaporou, O homem, caiu, O homem, rolou, O homem, se lambuzou, O homem, sumiu, O homem, se fodeu, O homem, tomou no cu, O homem, beijou a mãe, O homem, beijou o pai, O homem, deixou de ser, O homem, passou a ser, O homem, foi, O homem, ia, O homem, dia, O homem, sol, O homem, nuvem, O homem, terra, O homem, tem, O homem, não, O homem, sim, O homem, deu, O homem, é, O homem, passou passará, O homem, amou, O homem, chorou, O homem, homem, O homem, mulher, O homem, criança, O homem, odiou, O homem, defecou, O homem, urinou, O homem, transou, O homem, relacionou, O homem, beijou, O homem, jantou, O homem almoçou, O homem, ERROU. O HOMEM. O HOMEM. O HOMEM. O HOMEM. A CHAVE. A MULHER. O HOMEM. O HOMEM. A CHAVE.
Assinar:
Comentários (Atom)